Quando perdemos alguém o tempo parece ganhar outro ritmo e a
vida vai se reestabelecendo lentamente, um dia de cada vez.
Cada dia passa a ser um recomeço. Uns bons. Outros nem
tanto. E, em muitos outros, encontramos a recaída.
Ontem foi esse típico dia. Domingo de casa cheia. Crianças correndo
e gritando por todo o canto. Na televisão o futebol rolando.
A situação, por si só, já deixaria uma pontadinha de
saudades do típico domingo na casa da vovó e do vovô. Porém, para piorar a
situação, era domingo de clássico Cruzeiro e Atlético. Pior ainda, primeiro
jogo no novo Mineirão.
Ver o estádio cheio, torcida gritando, inúmeras bandeiras do
Cruzeiro já seria difícil. Vovô era apaixonado pelo time. Desde que me entendo
por gente ele colecionava camisas, canecas e todos os tipos souvenirs do clube.
Foi sócio do clube campestre (por falar nisso foi lá que conheci os meus
primeiros caldos).
Lembro bem da minha
infância, quando vovô pegava o radinho de pilha e deixava ligado na Itatiaia
para escutar o noticiário esportivo, enquanto se arrumava para ir trabalhar. O radinho
o acompanhou até nos momentos em que começou a ficar debilitado... quando
estava fraco, levava o radinho para cama, para fazer companhia.
Na televisão era futebol o tempo todo. Assistia a todos os noticiários e bate-papos esportivos. Se deixasse, vovô acompanharia até os jogos da turminha "dente de leite" do Cruzeiro...
Mas, o que fez o choro realmente sair foram as imagens da
transformação do Mineirão. Um filme passou por minha cabeça. Das tantas vezes
que estive ali com o vovô. Do caminho para o estádio. Da entrada. Do tropeiro.
Dos picolés. Da comemoração dos gols. Da final do campeonato mineiro, record de
público do Mineirão, em 1997.
Naquele dia a vovó quase infartou quando o vovô falou que ia me levar para o campo... Afinal só estavam indo o vovô, o tio Diquinho, o tio Antônio, Fernando e eu... rs... Achei o máximo!!! Foi naquele dia, ao ver a arquibancada sacudindo, sentindo
a emoção da torcida vibrando pela conquista do campeonato, que tomei a decisão
de que iria torcer para aquele time. Tudo bem, que quando decidi torcer para o Cruzeiro já tinha tomado ódio do Atlético, por causa de um jogo, contra o São Paulo, que o meu pai me levou, mas isso é assunto para outro texto.... Apenas sei, que uma coisa levou a outra.
Foi por isso que ontem, ao ver o novo estádio, senti um grande aperto no peito. Tive a constatação de que aqueles bons tempos
realmente nunca mais poderiam voltar. O meu avô se foi e aquele local que
costumávamos ir juntos também não existe mais. .jpg)
Assim como o estádio, nossas vidas estão modificadas e só nos resta as lembranças do que vivemos juntos. Agora somente em minha memória restariam as imagens daqueles bons dias e noites que passamos lá.
Foi um rito de passagem. Doloroso. Sofrido. Mas, importante.
Tenho certeza que ontem vovô vibrou muito e ficou orgulhoso de ver o Cruzeiro
derrotar o Galo na estreia do Mineirão, que, por falar nisso, agora é a casa do
nosso time... Pena que vovô não poderá mais me levar lá.
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