O momento que vivemos é crucial para a história política
brasileira e é impossível ficar inerte diante disso. Mas, precisamos ficar atentos para que não
sejamos ingênuos ou burros. Talvez, até mesmo, as duas coisas.
Boa parte (não estou dizendo todos e, sim, boa parte) sempre
viveu em meio à ignorância política. Não sabe o papel dos poderes, nunca se
posicionou, sempre ignorou qualquer tipo de informação relacionada ao tema. Acredita
fielmente que política se resume ao político. Não tem a menor ideia da dinâmica
da coisa.
Alguns deles ficam nas redes sociais. Outros vão para as ruas
para reclamar. Mas, todos eles não têm a menor ideia do que motivou a
reclamação.
Tem ainda aqueles que são ingênuos o suficiente para achar
que o confronto será "pacifico", como se isso fosse possível. Talvez
seja até plausível pensar em se manifestar de forma pacífica, mas, confronto
pacifico??? É piada, né?!?!
Tem também a turma do "deixa disso", que tem o
mesmo perfil dos citados anteriormente, porém, sem entender nada do que esta
acontecendo, fica em casa apenas tentando apaziguar a situação, com medo de
tudo e de todos.
Aproveitando de tudo isso, há grupos extremamente perigosos
que usam da falta de conhecimento político dessas pessoas para influenciá-las e
incitá-las, seja à inércia ou a um movimento violento, burro, perfeito para a
repressão policial e ideal para a instalação de poderes autoritários.
Ainda bem que, obviamente, existem muitas exceções, que
estão participando do movimento, seja nas ruas ou pela internet, de forma
consistente, buscando orientar e esclarecer os demais.
Sábado (22) ao participar da manifestação tive a
oportunidade de presenciar boa parte desses perfis. Vi de tudo um pouco. Muitas
famílias, jovens com os pais, idosos, crianças, estudantes e profissionais.
Muitos que entendiam o seu lugar ali e contribuíam de forma positiva, conversando
e discutindo sobre os temas que estão em pauta.
Tinha o grupo do "oba-oba", que achava que estava
na micareta. O grupo dos skatistas. Dos músicos. Dos advogados. Dos fotógrafos.
E dos rebeldes sem causa. E daqueles que apenas queriam incitar o combate.
A participação de todos foi muito importante. Apesar dos
pesares e do saldo negativo de vandalismo que ficou para a cidade.
Nesse processo, ficou uma avaliação interessante: vamos deixar
de ser ingênuos. Será que alguém achou que iria para a frente da PM ficar só
mostrando cartaz? É possível que alguém vá para linha de frente e não espere o
confronto? Tão improvável é não sair
muito ferido enfrentando cavalaria e batalhão de choques com paus e pedras. Vamos cair na real, somos um país com histórico de ditadura militar, que torturou e matou centenas que eram contra a "ordem". A nossa polícia é militar e não foi "treinada" para ser boazinha. Não dá para esperar isso. Sejamos
justos, infelizmente, quem não quer sair ferido precisa saber a hora certa de parar e ir
embora.
O movimento nas ruas é fundamental para o processo de
mudança. Faz barulho, chama a atenção das autoridades, da população, da
imprensa. Sou a favor. Ficar em casa lamentando não vai resolver nada. Mas,
para realmente ser efetivo não pode se limitar a isso. Tem que esclarecer, tem
que orientar, tem que canalizar essa energia em ações concretas, seja através
de abaixo assinados, envio de pautas aos poderes corretos, participação em
votações, entre outros.
A marcha dos 100km precisa ter rumo certo. Ir para o Mineirão
para brigar com a FIFA não vai resolver o nosso problema. A solução esta na
Câmara, na Assembleia, na Prefeitura ou na Cidade Administrativa. E não adianta
ir à noite para quebrar tudo. É preciso ir em horário de expediente, acompanhar
as votações, encaminhar propostas de projetos de lei, acompanhar por quatro
anos aqueles que foram eleitos por nós, para nos representar.
Concluindo, acredito que a reforma política é essencial. Mas
ela também começa por nós. Não adianta ficar enfurecido agora e no próximo ano
votar nos mesmos candidatos.
Nesse momento, é fundamental sermos cautelosos, sem ser
medrosos. Não podemos nos deixar levar pela Onda (quem nunca assistiu ao filme
alemão que leva esse nome precisa ver e entender a seriedade da coisa). É necessário
ter senso crítico, pesquisar, buscar informação, esclarecimentos, ter discernimento
para nos posicionar e ficar atentos aos rumos que estão sendo tomados.
Em primeiro lugar porque, como dizia Nelson Rodrigues, toda
unanimidade é burra. Então, antes de seguir a onda, seja ela qual for, vamos criar a nossa própria
opinião e entender o nosso papel como cidadãos e como eleitores. Afinal, como
visto em Alice no país das maravilhas, quando não sei onde quero chegar,
qualquer caminho serve.
Finalmente, vamos ter SENSO. SENDO DE CIDADANIA para
participar de forma positiva, que contribua para mudar os rumos do país, seja
nas ruas, pela Internet, no trabalho, em casa. SENSO CRÍTICO, para não ir na
onda, buscar informações e saber escolher o melhor caminho. E, principalmente,
BOM SENSO para saber a hora de agir ou recuar e transformar o "movimento"
em algo concreto. Caso contrário, como bem disse o meu amigo Leonardo, o
vinagre vai azedar o caldo.
Comentários