Tudo começou em um domingo ensolarado de novembro. Cansada dos afazeres da faculdade resolvi deitar e relaxar um pouco. Foi então que elas começaram. Pequenas pontadas abdominais. Uma dorzinha chata que, ao caminhar das horas, incomodava cada vez mais.
Passou o dia, veio a madrugada e a dor virou falta de ar. No amanhecer não restou alternativa senão procurar um hospital. No primeiro atendimento a médica perguntou: poderia ser gravidez? Não, sem chance. Não há atrasos, está tudo normal. Restou, então, tomar buscopan na veia e fazer uma bateria de exames para sair do consultório com indicações de vários remédios e um diagnóstico: cálculo renal.
Chás, remédios, repouso e dor, muita dor. Esta foi a rotina dos três dias que se seguiram até a próxima consulta médica. Repetição de exames, apenas acrescentando o RX, buscopan na veia e o mesmo diagnóstico: cálculo renal.
Resolvi procurar um especialista e tive que esperar, por mais de uma semana, apenas para receber mais uma pilha de pedidos de exame, com apenas duas novidades: fazer um ultrassom e parar de tomar alguns remédios que já não estavam mais fazendo efeito.
Enquanto esperava para fazer os exames, restava tentar voltar a rotina de trabalho, estudo e aprender a conviver com dor. O ápice, porém, ocorreu na madrugada de uma sexta-feira. As pontadas, que gradualmente passaram de pequenas para médias e grandes, se transformaram em mega ferruadas. Pensei que ia morrer sozinha em meu apartamento. Não conseguia sequer andar. E, então, olhei para o lado e vi, quase que brilhando em minha frente, um copo de água e a cartela de comprimidos. Não pensei duas vezes e tomei dois de uma vez só.
A dor não passou, mas a pressão abaixou e apaguei. No outro dia acordei com uma super gastrite, temperada por fincadas médias. Ainda tentei trabalhar, mas foi impossível. Cheguei em casa e novamente me dopei para dormir.
Ao acordar naquele sábado lembrei que tinha uma missão: assistir a estréia do filme Lua Nova, da saga Crepúsculo. A base de miojo, encontrei com minhas duas companheiras de livros e seriados teens – Samira e Nanda, e fui. Mesmo fraca e com dores, ainda consegui comer um balde amanteigado de pipocas e uma engordurada coxinha de frango com catupiry.
A mistura parece que não foi bem sucedida e, ao chegar em casa, só consegui achar o caminho do banheiro, que, aliás, se tornou o meu habitat nos quatro dias seguintes. Água de fubá. Soro caseiro. Gelatina. Água. Bezenção. Não adiantava. Nada parava em meu estômago. Em minha vasta experiência, tudo não passava de uma crise de gastrite, motivada pelo excesso de remédios. Para minha mãe, no entanto, esse enjôo tinha outro nome e só iria parar em nove meses.
Finalmente chegou o dia de fazer o ultrassom e descobrir se seria necessário, ou não, fazer alguma cirurgia para retirar o cálculo que me atormentava. Porém, a grande surpresa: não havia nada. Rins limpos. Vesícula limpa. Nada. Nenhum sinalzinho que explicasse a dor e o enjôo.
Foi então que, após a conclusão do exame, minha mãe decretou: isso não pode ser gravidez? Em dúvida, o médico resolveu fazer uma última verificação. Passou novamente o aparelhinho e um enorme silêncio preencheu a sala. Na tela apareceu uma pequena bola, que piscava. Sim. Estava grávida e aquele era o coraçãozinho de meu filho.
Parada. Sem voz. Sem reação. Sai do consultório com um grande medo e uma única verdade: a pedrinha nos rins que me incomodava por quase um mês, na verdade, trata-se do meu filho... uma pedrinha preciosa que mudará, para sempre, a minha vida!
As dores e os enjôos passaram após alguns meses. Vieram as azias, as dores nas costas, os pés inchados, o ganho de peso. Vários outros exames. Os tão esperados ultrassons. As primeiras cambalhotas. Os primeiros chutes.
Hoje, aos oito meses, já na reta final dessa primeira etapa da caminhada, a minha única preocupação é como será a chegada do meu principezinho, Vinícius, a maior preciosidade de minha vida!
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Beijos
Samira Haddad