Há quem diga que é preciso escutar a voz do coração.
Mas há momentos em que ele se torna imperativo e é impossível ignorá-lo.
Ultimamente todos os dias ele teima em se fazer gritar pela madrugada.
Forte, ofegante, descompassado, parece que quer sair do peito à força.
O grito é tão forte que começa a bater e ecoar na cabeça. E a faz latejar.
Nesse momento se instaura um grande conflito, do racional - que quer fazer o corpo e a mente repousarem e recuperarem as energias do dia; e do emocional - que faz a mente borbulhar e o corpo não obedecer a nenhum comando.
A luta se prolonga até o raiar do dia. Os pássaros cantam, o relógio desperta e a angústia aumenta. Não há para onde ir e nem como fugir.
O dia e as rotinas chamam. O coração cansado de tanto gritar agora doi. A cabeça fadigada liga o modo zumbi.
E assim, no piloto automático, segue o dia, cumprindo tarefas, compromissos profissionais e sociais, rotinas, projetos, “superações”.
Vem a noite e o único desejo é desligar e ver acabar aquele sofrimento que é estar vivo em modo apenas representativo.
O coração agora chora, as lágrimas fazem a cabeça doer ainda mais e em completa exaustão ela apaga.
Não por completo. No modo repouso vagueia por sonhos confusos, aflitos, pesadelos.
Até que, pontualmente às 3h30, o coração volte a gritar novamente, forte, ofegante, descompassado, dando início ao ciclo doloroso, que por agora parece infinito.
Há quem diga que é preciso ouvir a voz do coração. Mas, nesses dias eu apenas gostaria que ele fosse silenciado para sempre.
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