Amor incondicional e contradição necessária

Ela sempre desejou que eu fosse uma menina educada e delicada. E acredito que tenha ficado com o coração na mão ao me ver trocar as revistas de “meninas” pela coleção de revista “Placar”. Penso em quantas rugas de preocupação ela adquiriu ao me ver sair para os jogos de futebol – na verdade, até hoje, ela ainda acha isso estranho.

Ela sempre me ensinou a ser mais flexível, a ouvir as pessoas e sempre estar disposta a ajudá-las. E sinto que ficava angustiada toda vez que o meu gênio forte tomava conta da situação e, com todo o meu topete, tentava enfrentar a tudo e a todos – sim, eu era uma menina contestadora.

Ela tentou, juro que tentou, me doutrinar com os seus dons na culinária. Mas a minha falta de jeito fez com que ela desistisse de continuar – era difícil chegar perto dos padrões dela.

Ela sempre me ensinou a cuidar bem da casa, deixar as coisas organizadas, tomar conta da família. E acho que ficou meio desesperada quando descobriu que tudo o que eu queria na vida “era NÃO ficar em casa”. E que na lista dos sonhos estava destacado: correr o mundo e contar através das palavras escritas as minhas descobertas. 

Tudo bem que o destino até que contribuiu com ela nesse quesito. Por minha escolha, me casei, me tornei mãe e adequei muitas de minhas prioridades, equilibrando essa vida múltipla, sem nenhuma reclamação.
Tudo isso me fez crescer muito. 

Acredito que somente hoje, como mãe, eu consiga ter um pouco da dimensão das angústias dela. Das noites sem dormir, preocupada com o meu futuro e com a forma como eu ia encarar a vida com esse meu gênio difícil.

Antes achava que, mesmo tendo sido boa aluna, não ter dado trabalho na escola e ter conseguido alcançar meus objetivos, eu estava longe de ser o “modelo de filha”, que minha mãe sonhou.  Mas, hoje penso que não havia modelo ideal, no fundo, no fundo o que ela sempre desejou é que eu fosse realmente feliz.

Talvez por isso, mesmo preocupada, ela nunca me desamparou. Sempre esteve ao meu lado, aconselhando, perdoando, apoiando, consolando e pedindo a Deus para iluminar os meus pensamentos e guiar os meus passos. E como isso me ajudou a crescer como pessoa!!!

Por isso, agradecer é pouco no dia de hoje. Muito mais que a vida, minha mãe me ofereceu amor incondicional e a contradição necessária. 

Sempre me estendeu a mão e me mostrou a possibilidade de enxergar as coisas por outra perspectiva. Sempre trouxe o amor para o primeiro plano, em detrimento de qualquer tipo de diferença ou descompasso. 

O que eu desejo hoje é que eu possa ser para o meu filho, pelo menos, um terço do que ela foi e É para mim! - Rosangela Faria

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