Pense antes de levantar a sua bandeira

Em tempos de manifestos, revoltas, panelaços, discursos inflamados e visões maniqueistas entre forças do bem e do mal, vale a reflexão do nosso papel como cidadãos e da necessidade de se ter uma visão sistêmica sobre o problema para se cobrar uma solução que seja realmente efetiva.

Muito mais que apontar certos ou errados é importante analisar criticamente o que vem acontecendo. Afinal, nesse bolo não existem santos e todos têm a sua parcela de culpa ou conivência.

Reduzir o problema a um ou outro partido é ter uma visão limitada de uma questão séria e grave que assola todos os poderes no Brasil.

Enquanto acharmos que a culpa é somente de UM, seja partido ou político, continuaremos a ser bestializados e conduzidos por velhas raposas que, de geração em geração, vão se proliferando no poder e apodrecendo toda e qualquer chance de desenvolvimento desse país.

Não se trata apenas de Dilma, FHC, Lula ou Aécio. O problema é muito maior que isso, está no DNA do nosso modelo de se fazer política, do "rouba mas faz", dos lobistas, das empreitadas, dos caixas 2, da formação das almas.

Como cordeirinhos por vezes nos restringimos a pensar igual, aceitamos a visão reduzida que tentam nos impor e apenas reproduzimos discursos vazios que não nos levam a caminho algum.

A mudança em nosso país é urgente e necessária, mas só será possível quando buscarmos mudanças no nosso modo de se fazer política. Cobrar por melhores opções de candidatos em eleições, pela apresentação de resultados reais dos governos, por maior participação dos cidadãos nas decisões políticas, pelo acompanhamento de projetos e programas de governo, até o fim do mandato. Aqui também fica boa parcela da nossa culpa, conivência  e responsabilidade. O quanto estamos realmente participando disso?

Considero que as manifestações são muito importantes e não podem ser reduzidas com o discurso de luta de classes, mesmo que ela exista, pois gera uma visão  simplista e adormecida de um problema maior. O que vale é o questionamento sobre quais interessantes estão realmente sendo reivindicados. Intervenção  militar? Impeachment? Vai embora sua vaca? Pela moral e bons costumes da família brasileira? Fora PT? Comunismo? Ou reforma política?

Acredito que boa parcela das pessoas que esteve nas ruas ontem tinha a melhor das intenções, manifestaram por um pais melhor. Porém, a maior parte dos manifestantes estava brigando por interesses que vão além do bem comum e isso pode, e deve, ser questionado. Isso sem contar a boa porção de pessoas que achou que estava numa micareta. Embora isso não diminua a importância do ocorrido, é preciso separar o joio do trigo.

Em minha opinião precisa ficar claro o que realmente queremos. Eu posso afirmar que não quero mais essa discussão rasa de PT e PSDB, da falta de diálogo do governo, da relação promiscua entre os poderes e muito menos Aécios, Sarneys, Costas, Mentores, Collors, Calheiros, Cunhas, Bolsonaros ou Felicianos e tudo o que eles representam para o nosso país - politicagem, corrupção, conivência, manipulação, censura, exploração, mais do mesmo.

Enquanto nossas opções se limitarem a esses padrões políticos não será possível vislumbrar perspectivas positivas. É isso que também precisamos mudar.

A nossa necessidade é de maior participação das pessoas em todo o processo, da renovação da nossa safra de políticos, de transparência na relação entre o poder público e as instituições privadas, de uma nova forma de se pensar e se fazer a política no Brasil. Precisamos de diálogo, respeito e de uma urgente Reforma Política.

O resto, em minha opinião, cheira a manipulação, golpismo ou manutenção do status quo. Mas quem disse que estou correta? É apenas o meu ponto de vista... E como não gosto de radicalismos, estou disposta a ouvir opiniões contrárias, pois elas me possibilitam refletir e olhar além. Por isso, tenho como premissa escutar o outro, mesmo que isso não me faça mudar de ideia.

Penso que antes de sair de casa, de levantar as bandeiras ou de brigar em redes sociais podemos e devemos ver o todo, refletir e tirar nossas próprias conclusões. Acho que esse é um exercício fundamental nesse momento.

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