Discurso da intolerância

A intolerância tomou conta da sociedade.

Cresci ouvindo os adultos dizerem que política, futebol e religião eram temas que não deveriam ser colocados em pauta em determinados locais, sob o risco de se arrumar uma grande confusão, em virtude da polêmica que geram.

Sempre questionei isso, pois em minha opinião a discussão seria a oportunidade de se refletir, de agregar, de expandir, de desenvolver.

Hoje, no entanto, reconheço a dificuldade dessa prática. Afinal, as pessoas não discutem com o objetivo de expor o ponto de vista e escutar o do outro, entendendo a diferença, a diversidade, como forma de aprendizado e crescimento.

As pessoas discutem com o objetivo de impor os seus pensamentos, preferências e vontades, em detrimento dos demais, desrespeitando e menosprezando o que é diferente.

Inertes e alienadas em suas visões, as pessoas se fecham para o outro, tornando a discussão uma guerra sem fim em que o que meu, sempre é superior ao do outro - o meu partido é o melhor, o meu time é o melhor, a minha religião é a única que presta.

Se isso já era complicado nas rodas de conversa, entre amigos próximos, familiares ou colegas de trabalho, tomou uma dimensão desastrosa e assustadora quando ganhou as redes sociais.

Não há mais diplomacia, respiro, bom senso. Há ataques desmeditos, insultos, provocações, profanações, desrespeito. As pessoas xingam, brigam sem pensar no outro. Entre Petralhas e Coxinhas, Marias e Frangas, Carolas e Bitolados. Todos somos desrespeitados.

Embora existam exceções para toda e qualquer regra, infelizmente temos que concordar com os mais velhos de que política, futebol e religião ainda são temas que não devem vir a tona num lugar qualquer.

Para piorar, na atualidade as discussões não se limitam a esses temas. Não importa qual seja o assunto, basta ser um pensamento diferente para que as pessoas se sintam no direito de ofender, agredir verbalmente, espalhar calúnias, debochar, impor o seu pensamento e a sua vontade a todo e qualquer custo.

E, ainda, as agressões deixam o âmbito do verbal e do digital para ganhar ação nas ruas com linchamentos, agressões físicas, brigas e até mesmo mortes.

Deixam de entender, de conviver, de construir com a diversidade para implodir pela intolerância.

Por isso, as vezes é melhor escutar calado, mesmo não concordando com determinadas questões e pontos de vista. Afinal, não é possível estabelecer diálogos onde não haja bom senso e respeito para se ouvir, entender mesmo sem concordar ou para se falar de forma civilizada.

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