Que 2014 seja tão imperfeito como todos os outros

Por duas semanas pensei em palavras que pudessem resumir o que foi o ano de 2013 em minha vida. 

Obviamente muitas palavras passaram por minha cabeça: perda, morte, tristeza, surreal, conflitos, manifestações, aprendizado, ressignificação, recomeço, vida, alegria, futebol, galo, cruzeiro, família, leveza, felicidade, entre muitas outras.

Então percebi que a única palavra que poderia definir esse ano, e todos os outros que já se passaram e todos que ainda virão, é IMPERFEIÇÃO.

Todos os anos, assim como todos os dias de nossas vidas são, na essência, imperfeitos. É impossível colocar na balança todos os momentos, pesar e definir “foi bom”, “foi ruim”, pois esses são elementos cruciais de nosso dia a dia.

Todos os dias pessoas nascem e morrem. Todos os dias alguém vence e alguém perde. Todos os dias alguém chora e alguém sorri. Todos os dias alguém está triste e alguém está feliz. E durante o ano todas essas situações perpassam as nossas vidas de várias formas, com intensidades variadas, sendo impossível medir qual tem maior peso e tachar o ano de “bom” ou de “ruim”.

É óbvio que perder alguém nunca é bom. É uma ferida difícil, ou até mesmo impossível, de ser cicatrizada. Então logicamente se perdemos alguém aquele passa a ser o pior ano de nossas vidas, certo? Talvez sim, talvez não. Pois, ver o sofrimento da pessoa ou vê-la se privar de tudo aquilo que mais gosta talvez seja ainda mais sofrido do que não ter as boas lembranças dela. Então, talvez a perda, embora traga a saudade e a falta, talvez não seja assim tão ruim. Há relatividade nessa e em todas as outras questões de nossas vidas. Não existe uma verdade única e absoluta.

A conclusão que chego é que não existe fórmula matemática para medir isso. A cada dia vivemos infinitas situações boas e ruins. Mas, o importante, na verdade, é o que fazemos com cada uma dessas situações. Como lidamos com cada uma delas? O quanto aprendemos? O que estamos dispostos a fazer diferente? O quanto estamos comprometidos a ser melhores diante daquilo que temos controle?

Essa é a principal lição que levo desse ano. Afinal, iniciei 2013 com uma das maiores perdas de minha vida, até o momento. A morte do meu avô, embora racionalmente prevista, me deixou sem chão. Tirou todas as minhas certezas e o meu fôlego.

Aliado a isso vivi um período conturbado profissionalmente e pessoalmente, em que me questionei profundamente sobre o que realmente queria para a minha vida pessoal e para a minha carreira. Para piorar, vi o Galo ser campeão da Libertadores, algo muito surreal para quem estava acostumado a ver o time rival somente levantar taças do mineiro - embora tenha ficado feliz pelo meu pai, aguentar os Atleticanos é difícil demais... Rsrsrs...

Então, ainda em junho tudo o que queria era que 2013 acabasse logo e levasse embora tudo aquilo que me incomodava. Mas, isso resolveria? A simples virada do dia 31 para o dia primeiro mudaria tudo? É óbvio que não. 

Mas há na virada de ano algo fundamental para quem está sem esperança, que é o rito de passagem. Ele carrega uma energia que tem o poder de nos dar um fôlego. De propor reflexão e tomada de consciência. De olhar para o que passou e pensar o que poderíamos fazer diferente. É esse rito que às vezes nos permite respirar fundo e retomar as rédeas de nossas vidas.

E foi isso que fiz com a minha vida esse ano. Não esperei o dia 31 de dezembro de 2013. O meu rito de passagem foi antecipado para o dia 12 de julho de 2013, data em que comemoramos o nascimento do meu filho Vinícius.

Depois de uma ressaca de uma fase ruim, acordei nesse dia com o coração explodindo de contentamento, pois, pela terceira vez, comemoraria o aniversário do meu filho. Então passei o dia relembrando a sensação fantástica de ter dado vida a um novo ser, de vê-lo se desenvolver e descobrir o mundo. Pensei...  Como esse poderia ser um ano ruim se representava mais um ano de vida do meu filho? Como poderia me entregar à tristeza e depressão se coloquei alguém no mundo para ser feliz? Como poderia questionar os desígnios de Deus se fui contemplada pelo dom da vida? O que estava por trás da perda e o que poderíamos aprender com ela?

Não foi um processo rápido e fácil. Foi doloroso, choroso, porém, revitalizador, que me fez retomar a minha vida. 

Encarei de frente os estudos que havia começado em maio, mas não estava levando muito a sério. 

Viajei com a minha família, num tour delicioso do “trio ternurinha”. 

E, em minha opinião a decisão mais importante, finalmente tomei coragem para fazer o curso de coaching, que tanto queria. Este com certeza foi o divisor de águas.

A partir daí centrei naquilo que estava ao meu alcance e naquilo que poderia ter controle e/ou responsabilidade para mudar. 

Defini metas e fiz questão de cumprí-las. Conheci pessoas maravilhosas. Mudei a minha forma de me relacionar com a minha equipe de trabalho. 

Renovei a minha energia. Desapeguei-me de tudo o que não me fazia bem. Tomei coragem para falar o que pensava. Busquei fazer o bem para as pessoas, mas sem direcioná-las de acordo com o que eu achava certo e entendendo que não tenho responsabilidade sobre as escolhas delas.

Ganhei prêmio pelo meu trabalho e entendi a importância do que faço para o meu crescimento profissional e pessoal. 

Voltei a frequentar campos e me empolgar com futebol, relembrando os bons tempos vividos com o meu avô e fazendo disso mais um rito de aprendizado em relação à perda. O bom é que consegui ver o Cruzeiro voltar a ser campeão Brasileiro e participei da festa com muita alegria!!!

Cuidei da minha saúde. Levei a sério as aulas de natação e inclui mais um dia de atividades. Descobri que tenho intolerância a lactose e passei a fazer uma dieta rigorosa com o apoio de nutricionista.

Perdoei, embora algumas vezes tenha considerado a situação injusta e, até mesmo, não tenha recibo o perdão na mesma dose.

Mas, o mais importante, aprendi a Ressignificar e inclui essa palavra como favorita em meu dicionário pessoal, juntamente com a Perseverança, amiga já conhecida e reverenciada de muitos e muitos anos.

Então, ao final, talvez concluam que o meu primeiro semestre foi ruim e o segundo foi bom. Não consigo classificar assim. Considero que os dois foram repletos de momentos bons e ruins, de alegrias e tristezas, de choro e de gargalhadas, de aprendizado e ressignificação, de perseverança e de amor. Em nenhum deles fiz tudo o que queria ou que planejei. Em todos eles vivi momentos maravilhosos e também difíceis. Então, eles foram igualmente IMPERFEITOS. A única diferença estava na forma como lidei com as situações.


E o que espero de 2014? Que tenhamos saúde, boas energias e muita perseverança para lutarmos por aquilo que acreditamos, para buscarmos os nossos sonhos, para que possamos aprender com os nossos erros e nos aperfeiçoar como seres humanos. Mas, desejo especialmente que 2014 seja essencialmente IMPERFEITO, como todos foram e continuarão a ser por todo o sempre, mas que em todos possamos sempre SER e FAZER A DIFERENÇA. Amém!!!

Comentários

M.Ramos disse…
Belo texto amoreco, sempre me surpreende com uma perfeita seleção de palavras. Feliz 2014 Imperfeito!

bjos
Anônimo disse…
Parabéns pela reflexão,Filha:O primeiro semestre até então considerado ruim, talvez tenha sido o balizador para a tomada de decisões, que no fina das contas se tornou positivo.E te asseguro...é assim mesmo.Quando perdemos algo, não podemos nos acomodar com a perda, e sim buscar de alguma forma sermos recompensado, nem que seja simplesmente o "pedagógico"
Anônimo disse…
Lindo texto amiga. Pode ter certeza que depois de lê-lo, não sou mais a mesma pessoa de hoje. Bjos no coração.