Maternidade: nem tudo são flores

Estar grávida é uma das melhores sensações que já tive na vida. Às vezes escutava essa afirmação de amigas e familiares e achava que fosse um exagero. Somente hoje consigo perceber a grandiosidade deste momento.

Essa nova fase trouxe importantes renovações e descobertas para minha vida. A maioria delas tem sido extremamente engrandecedora. Porém, como nem tudo são flores, outras experiências trouxeram a tona duas questões desagradáveis: a falta de solidariedade e o preconceito.

A primeira delas é percebida através da quebra do direito à prioridade. Concedido às gestantes, idosos, portadores de necessidades especiais e mulheres com crianças no colo (lactantes), este direito refere-se à prioridade de atendimento em estabelecimentos comerciais, bancários e em assentos de transportes coletivos.

O que deveria ser uma coisa natural e normal acaba se tornando um tormento para quem poderia se valer dele. Afinal, basta entrar na fila prioritária para que as outras pessoas comecem a, literalmente, te ignorar. Fingem que não estão te vendo e começam a acelerar o passo para que sejam atendidas mais rápido que você. Algumas chegam a reclamar e brigar, como se você estivesse “furando fila”.

E sabe o que é pior? Muitas vezes a gestante não é respeitada nem pelos idosos, que fazem questão de passar na frente na fila, como se você estivesse tomando o lugar deles. Por várias vezes, presenciei os atendentes de lojas chamando a atenção de senhoras idosas que não respeitaram as gestantes e foram direto para o caixa. O mais engraçado é que isso aconteceu exatamente com mulheres idosas. Será que elas já se esqueceram da dificuldade de sustentar a barriga e ficar em pé? Será que as mulheres não pensam que um dia estavam ou poderão estar do outro lado? Será que os homens não têm mães, esposas, irmãs ou filhas que passaram ou ainda vão passar por essa situação?

Pense bem: se nem aqueles que são “prioritários” se respeitam, o que levaria os demais a respeitá-los? Na terra do “jeitinho” parece mesmo que as pessoas sentem necessidade de levar vantagem em tudo e, infelizmente, esquecem de ser solidárias com aqueles que precisam de um pouco mais de atenção naquele momento.

Para deixar a situação um pouco mais desagradável, a gestante ainda tem que enfrentar o preconceito masculino no mercado de trabalho. Coisa do passado? Também achei, até sentir na própria pele.

Em primeiro lugar as pessoas olham para a sua barriga e acham que você está inválida. Não conseguem entender que as dificuldades físicas não têm nada a ver com a sua capacidade mental. Isso sem falar que as pessoas associam o seu barrigão a um padrão estético “não adequado para exposição da imagem” da sua empresa.

Agora, o pior mesmo ocorre quando as pessoas começam a questionar se você poderá, ou não, seguir em frente em sua vida profissional, após o nascimento de seu filho. Isto é a mesma coisa de dizer que a mulher não está apta mais a desenvolver suas atividades, depois que ela passa a ser mãe. Ou pedir para que as mulheres escolham entre a vida profissional ou vida pessoal. Tem preconceito pior que este?

A maternidade é um momento mágico de descobertas e novas experiências. Isso deveria ser valorizado e, por que não, até estimulado pelas empresas, uma vez que as mulheres crescem, aprendem e, muitas vezes, se encontram no mundo. Por outro lado, no entanto, o mercado só consegue enxergar a mulher que se ausenta por quatro meses e que, a partir do nascimento, ou se tornará uma dona de casa ou será um problema para a empresa.

O mundo mudou, mas parece que as cabeças não. As mulheres dominam o mercado de trabalho e, ainda assim, são subjugadas por pensamentos retrógrados e machistas. Está na hora de reverter esse quadro.

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