Da tolerância à exaustão

A paciência reside em uma linha tênue dos sentimentos.

Nos últimos dias ela resolveu abandoná-lo.

Junto com ela levou a diplomacia e a tolerância.

Inicialmente ele ficou preocupado. Afinal, essas duas palavrinhas são pré-requisitos para a convivência em sociedade. E, ainda mais naquele momento, deveria precisar muito delas.

Porém, por mais que se esforçasse não conseguia mudar a situação. Então aproveitou o ensejo para refletir...

Percebeu que, ao mesmo tempo em que a tolerância e a diplomacia são importantes, funcionam como monstrinhos que alimentam o estresse, a gastrite, a dor de cabeça, a depressão, o câncer, a solidão.

Chegou à seguinte conclusão: conviver com as pessoas desagradáveis fez mal à saúde.

Foi aí que, de forma libertadora, respirou fundo e disse para si mesmo: a vida é curta demais.

Em sua cabeça um filme mudo o fez lembrar que, no mundo acelerado em que viveu, sempre faltou tempo para conviver com àqueles a quem verdadeiramente amou.

Ele gastou grande parte de sua existência tentando garantir uma pacífica e aceitável convivência social. Mais “popularmente” explicando, perdeu tempo fingindo ser o que não era. Agradando àqueles a quem nunca o agradaram.

Não cultivou amigos, apenas semeou jogos de interesse.

Agora, fechado naquele quarto abafado, olha em volta e, embora veja várias camas lotadas, não consegue enxergar nada, ninguém com quem realmente queira gastar as últimas palavras que lhe restam.

Nesse momento, de nada valeria a diplomacia. Ela não seria capaz de negociar com aquilo que tomava o seu corpo e sugava a vida.

Se ao menos lhe restasse mais tempo...

Em poucos segundos, vislumbrou tudo aquilo que poderia ter tido. E sorriu como uma criança.

E, então, agarrado à essa esperança entregou-se ao seu destino irremdiável.

Comentários

Anônimo disse…
Simplesmente lindo!!! É o que eu sempre te digo: vc escreve com o coração. Continue assim sempre. Nos identificamos com muitos deles. Grande bjão e paz para seguir em frente.Érika
Marcelo disse…
Na vida boa parte dos sentimentos são efêmeros. Até o amor é passageiro, quando não é verdadeiro. No entanto, o ódio e o desprezo, teimam em nos acompanhar por toda a vida. Sendo assim, é preciso cortar e cauterizar esses sentimentos, antes que ele se transformem em um monstro de milhares de cabeças, embuídos em nos governar.

Belo texto!