Click

Click. A luz se apaga. A porta se fecha. Em meu peito uma pontada de tristeza. O escuro da casa faz aumentar o medo e a ansiedade. E agora? O que farei a partir desse momento? Como será a minha vida a partir dessa ruptura. Em minha cabeça milhares de lembranças. Fotos. Festas. Viagens. Esperanças. Metas. Realizações. Cumplicidade. Amizade. Os minutos começam a passar rapidamente. A cabeça borbulhante. O corpo estático, guardado por cobertores e edredons. O calor contrasta com o frio na espinha. A porta se abre. A luz se acende. Click. Meus olhos travam como pedras. Demoram para assimilar o que ocorre. Ele se aproxima. O coração bate descompassadamente. Embriagada na confusão de meus pensamentos, os seus lábios tocam os meus. O arrepio toma todo o corpo. Eu te amo. Eu também. Sentirei a sua falta. Eu também. A luz se apaga novamente. A porta se fecha novamente. Meus olhos se fecham. O sono toma a cena. Quatro dias. Click.

Comentários

Pedro disse…
Bela escrita. Diante da falta do que dizer, deixo aqui as palavras do Drummond. Essas sim, sempre dizem muito. Pra mim, é o poema mais belo que já li até então:

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Carlos Drummont de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu/Deus./Tempo de absoluta depuração./ Tempo em que não se diz mais: meu amor./
Porque o amor resultou inútil./
E os olhos não choram./
E as mãos tecem apenas o rude trabalho./ E o coração está seco./

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás./Ficaste sozinho, a luz apagou-se,/mas na sombra teus olhos resplandecem enormes./
És todo certeza, já não sabes sofrer./E nada esperas de teus amigos./

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?/
Teus ombros suportam o mundo/ e ele não pesa mais que a mão de uma criança./As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios/provam apenas que a vida prossegue/e nem todos se libertaram ainda./
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer./
Chegou um tempo em que não adianta morrer./Chegou um tempo em que a vida é uma ordem./A vida apenas, sem mistificação.

Até mais Bruna! =)
M.Ramos disse…
Eu e o tempo
O tempo é um sujeito moleque, gosta de pregar peças e contrariar as pessoas.
Ele parece ter inveja da felicidade alheia e se divertir da solição dos outros.
O físico tentou explicar os caprichos do tempo com a relatividade, mas apesar de seus esforços não soou convincente
Ele é tão tinhoso que faz com que um beijo pareca instântaneo e a fila do banco uma condenação
Ontem ele aprontou novamente, e hoje continua fazendo o mesmo.
Ele tem se alimentado da minha angustia e atormentado minha saudade.
Observo as pessoas na calçada e vejo que elas não se incomodam com esse mal criado.
Ele sabe que a saudade me corroi e que quatro dias não são quatro horas.
Outrora transforma quatro horas em quatro segundos, quando o criado é nosso único hálibe.
Mas o tempo não sabe o que é amar e como é bom aguardar para ouvir: "Eu te amo, senti sua falta!"
Pedro disse…
Foi você quem escreveu M. Ramos? De qualquer forma, é sensacional! Parabéns! =)