TRANSCENDÊNCIA

A morte é a única verdade irremediável e absoluta da vida. É a certeza de limitação e finitude que, apesar de acompanhar o homem por toda a existência, é, normalmente, ignorada, na esperança de que seja postergada.

Isso porque é parte inegável da essência humana a completa despreparação para a perda. O homem nasce, é criado, doutrinado e iludido para vencer. Driblar adversidades e alcançar. Seguir em frente e somar.

Porém, quanto mais a existência é prolongada no planeta, mais é necessário encarar, mesmo que de forma ressabiada, o fato de que um dia o fim chegará para todos, independente da raça, do credo, da opção sexual, do caráter e dos valores.

De acordo com a ordem natural da vida, a verdade, mais que inconveniente, começa a se mostrar por meio do topo da árvore genealógica. E essa, embora seja pré-conhecida, é uma verdade que tem a missão de sacudir a estrutura emocional de qualquer ser.

Pensar que a existência de um é uma combinação de fatores, de energias, cosmos e destino, e, muito mais que isso, só foi possível pela existência de um outro ser que, a partir desse momento, é só uma lembrança?

Como lidar com a dura realidade de que, aquele que tornou possível uma história, a partir de agora não estará mais presente neste mundo?

A herança de uma história a ser contada e a missão cumprida na jornada da vida, são os consolos que fazem seguir em frente e continuar um dia e cada vez.

Porém, o mais difícil é saber como aceitar uma vida interrompida quando ainda há anos e anos de páginas em branco a serem escritas?

Brincadeiras obstruídas. Uma juventude que não chega. Experiências apenas imaginadas. Sorrisos silenciados. Sonhos encaixotados.

Uma verdade absoluta que torna o ser impotente, diante da missão, impossível, de explicar o que não tem explicação. Como consome, arrebata e maltrata quando não há palavras, que sejam suficientes, para expressar a insatisfação de ver o quão cruel e irremediável é a realidade.

A dor, porém, é algo, por si só, irracional. Falta ao homem o bastão mágico da eternidade. Resta, no entanto, a plenitude do presente que, diariamente, o torna potente, o suficiente, para fazer de cada segundo um momento etéreo, do qual restarão, não mais que indivíduos respirantes, mas, sim lembranças e uma saudade imortal, que transcende tempo, espaço, vida e morte!

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