LEMBRANÇAS DE EXCURSÃO

Excursão é excursão. E ponto final. Os mais saudosistas logo vão lembrar das velhas excursões escolares. Era uma verdadeira preparação. Por mais inocente que fosse o lugar, sair da sala de aula e do seguro ambiente escolar já era motivo suficiente para deixar os pais de cabelo em pé. A presença da "tia", a professorinha boazinha, mas rígida, não amenizava muito a situação.

Então, eram dias e dias para fazer tudo certinho. Chegar cedo em casa, não sair para brincar, ficar no quarto para estudar e ainda ajudar na limpeza da casa e na arrumação da cozinha. Tudo isso para esperar o momento ideal e dar o "bote", ou seja, mostrar o bilhetinho e, no momento de distração – de preferência na hora em que o pai estava quase cochilando com a novela – pedir a assinatura para a autorização.Esse modelo era infalível. Quando percebiam já tinham assinado e aí só restava comprar o lanchinho e fazer a carta de recomendações: "não fique longe da tia"... "não faça bagunça dentro do ônibus"... "cuidado para não ficar pra trás"... e a melhor de todas "juízo, viu?".

Ao entrar dentro ônibus o clima já começava a mudar. O motor ligava e o coração batia acelerado. Quando o motorista arrancava era como se o time do coração tivesse marcado aquele golaço, na final do campeonato, contra o arquiinimigo. O barulho era geral. Ninguém sabia ao certo o por quê, mas todos gritavam, aplaudiam, vibravam...Não passava muito tempo e já começavam as piadinhas, as musiquinhas da moda e as maudosas, a brincadeira com os pedrestes – jogar gelo era a menos inofensiva. Todos faziam, como se sentissem a obrigação de fazer, mesmo que aquilo não tivesse nada a ver com a sua personalidade.

Ao chegar ao destino, todos passeavam, se divertiam, aproveitavam como se fosse o último dia de vida. E, ao retornar, a rotina do ônibus continuava: gritos, euforia e alegria. Alguns minutos de prazer que acabavam no momento em que descia o primeiro degrau da escada do ônibus. De repente, ninguém mais acha graça na piada, os gritos tornam-se falta de educação e o sorriso fica guardado para a próxima.Os tempos de criança passam, as nossas tias passam a ser professoras, que viram monitoras, que viram representantes do departamento pessoal, que viram dono da empresa.

É justo pensar que a postura de uma criança seja diferente a de um jovem, de um adulto de 30/40 anos ou de um aposentado. No entanto, aí está o grande erro. Tudo bem que, talvez não seja necessário pedir assinatura para autorização. Mas, vai dizer que nunca viu um ônibus cheio de adultos fazendo brincadeiras, contando piadas e mexendo com outras pessoas, tudo para "matar" o tempo. Isso sem falar nos ônibus de empresas em que o chefe vira o engraçadinho e interado da turma, enquanto os revoltados ficam só fazendo sarcasmos sobre a empresa. Ah, ainda tem os vovôs que só querem curtir a vida e fazem aquela farra nas excursões.

Por isso, não importa a faixa etária, a classe social ou o motivador do passeio. Seja para diversão, estudo, trabalho ou um simples relax, em qualquer excursão a euforia e as bobeiras sempre serão as mesmas, para meninos de oito anos ou aposentados de 70, mesmo que isso pareça completamente idiota. Afinal, excursão é excursão
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Postado inicialmente em 13/08/2006

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