ERA UMA VEZ UMA MENINA JORNALISTA

Muitos podem achar estranho, mas, clássicos infantis como TRÊS PORQUINHOS, DONA GIRAFINHA e BRANCA DE NEVE, têm sido grandes responsáveis pela escolha do jornalismo como profissão. No meu caso, além deles, podem ser citadas as boas notas nas aulas de redação e a “maquininha” de escrever, presente dos meus pais no Dia das Crianças.

Talvez seja senso comum, mas foi justamente o estímulo à leitura que aguçou a minha vontade de escrever. Daí para o jornalismo foi um pulo, ou melhor, mais de dez anos de muito estudo e preparo para a grande escolha da vida: a profissão a seguir.

Também pode ser somado a isso tudo os ideais juvenis de querer tornar o mundo mais justo, humano e digno. Ideais esses que, com as dificuldades da vida e o conhecimento das atrocidades humanas, muitas vezes se desencantaram e tornaram-se frustrações. Mas, mesmo enfraquecidos, nunca morreram.

Pode até parecer demagogia, mas foram esses ideais que me ajudaram a superar a batalha do curso superior. Isso porque, jovens como eu, de classe média-baixa, com muitos sonhos e pouco dinheiro, são figurinhas fáceis no Brasil de desigualdades. Para essa parcela da sociedade as possibilidades podem até ser razoáveis, mas as chances de conseguir alcança-las não têm a mesma proporção.

Então só com muito esforço e vontade é que se pode vencer. E foi assim, com muito trabalho noite-dia, inclusive nos fins de semana, que o sonho de criança tornou-se a realização da vida adulta. A descrição desse período o torna simples, como um “conto de fadas”, e não reflete o sacrifício das noites de sono perdidas, dos dias longos de trabalho, dos desejos de consumo reprimidos pela falta de dinheiro ou da sensação de estar só diante do mundo.

Mas ao final da jornada, mesmo ainda sem perspectivas de trabalhar na profissão, fica a emoção da vitória e do dever cumprido. Nessa hora, os desafios realmente parecem pequenos diante da conquista e só resta chorar e agradecer a Deus, aos pais e àqueles que compactuaram para essa vitória.
Engraçado, justamente quando se pensa que pode respirar e aproveitar a vida trabalhando com o que sonhou, é que percebe-se a grande responsabilidade que está nas mãos dessa profissão. Então percebo que o desafio só está começando e os sacrifícios passados foram essenciais para a construção de meu caráter e do conhecimento da minha capacidade para reverter situações adversas.

Agora é que os ideais juvenis precisam dar lugar à parâmetros para uma conduta ética e responsável. Também é preciso lembrar do valor família, que é a raiz e a referência do ser humano. Afinal, somos espelho de nossos antepassados, refletindo ao mesmo tempo passado, presente e futuro, na busca constante pela experiência e aperfeiçoamento do ser humano.

Esses referenciais são importantes, pois talvez os jornalistas não tenham os poderes necessários para mudar o mundo e a mídia não seja o “quarto poder”, como costumam dizer. Mas, se não podem mudar tudo, pelo menos algo podem fazer. Seja através do respeito às fontes, de uma apuração bem feita, da denúncia, do fim de privilégios ou simplesmente pela capacidade de não ficar alheio às mazelas da vida.

Assim pretendo guiar minha profissão. O que aparentemente é fácil demais para um jovem recém-formado já é impossível para muitos profissionais calejados e embrutecidos pelo jornalismo. Mas a única opção é tentar, mesmo sabendo que a vida real nem sempre tem “final feliz”, como os contos de fadas. Ao invés de bruxas, lobos e sapos, o jornalista lida com poder, corrupção, propina, jogo de interesses e vaidade.

Muitas vezes, levar informação as pessoas será uma função mais difícil que a de um equilibrista na corda bamba, em nosso caso sempre estará em jogo os interesses público e o privado. Nessa hora não vale apelar para o “príncipe encantado” ou para a “fada madrinha” pois eles em nada ajudarão. A tônica mágica é conhecer a “moral da história”, que fala de conduta ética e vontade de vencer. Então percebe-se que os contos infantis, que aparentemente nada tem a ver com o jornalismo, na verdade podem ser a sua descoberta e a compreensão de seu sentido, se não para todos, pelo menos foi e tem sido para a história da minha vida.

Comentários

Eduardo Araujo disse…
Ótimo texto, você Bruna profissionalmente é uma excelente escritora, talvez a melhor de todas que venha conhecer ná area de comunicação.Além de escrever de forma rápida e criativa com muita facilidade. Parabéns.